(...) “A palavra de ordem “democracia real, já!” contém uma perigosa ambiguidade. Implica uma crítica dos sistemas políticos que deixaram de funcionar eficazmente e reflecte um problema de representação política, sobretudo na Europa do Sul. Mas o carácter vago da reivindicação não aponta nenhuma reforma precisa. Limita-se a adjectivar – uma vez mais de forma ambígua – o termo democracia. Designa a vontade de participação dos cidadãos, um factor de renovação do sistema político ou uma utopia anarquista? As reportagens sobre os “acampados” indiciam mais uma praça em catarse de frustrações do que um fórum de debate político.
Por uma curiosa ironia da história, os movimentos “indignados” inspiram-se nos jovens árabes de Tunes ou da Praça Tahrir. Mas como ironizou Felipe González, os jovens árabes querem votar como nós e nós proclamamos a inutilidade de votar. (…)
É quase automático o deslize para um populismo à moda de Ross Perot, quando sonhou substituir o pesado (e dispendioso) processo de decisão do Congresso pela deliberação instantânea dos cidadãos. Os “indignados” são um sintoma, não dão uma resposta.”
Jorge Almeida Fernandes, Público, 16-06-2011
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