quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ernesto Melo Antunes

Auditório 3 da FCG cheio que nem um ovo, com dezenas de pessoas de pé. Para apresentação de uma biografia sobre um homem sem o qual tudo teria sido bem diferente, para pior, no nosso percurso pós 25 de Abril, embora o seu comprometimento político viesse já de longe, quando, por exemplo, ousou apresentar-se como candidato pela CDE em 1969, apesar de ser militar. Pretensão recusada pois o regime apenas tolerava candidaturas militares pela União Nacional.
Melo Antunes, senhor de uma grande cultura e enorme coerência, foi o ideólogo do MFA, pela intervenção que teve na redacção do seu programa e do Documento dos Nove, para além de ter evitado o ajuste de contas pretendido pela direita no pós 25 de Novembro, numa intervenção hoje tida como fundamental para a afirmação de um estado de direito em Portugal.
Além disso, teve desempenhos relevantes como presidente da Comissão Constitucional, sucessora do Conselho da Revolução e embrião do futuro Tribunal Constitucional, como ministro dos Negócios Estrangeiros, como conselheiro de estado. Mas incompreendido por muitos e alvo de vinganças mesquinhas, como foi a de Freitas de Amaral quando lhe vetou uma nomeação internacional.
Apenas visualizei uma pessoa que se pode ter próxima da governação que nos vai e desgraçando, mas Mota Amaral já vem doutros tempos, nada tendo a ver com estes estroinas do seu partido.
Para além da excelente e viva apresentação do livro feita por António Reis, realce para a evocação de uma amizade e de uma cumplicidade ideológica e política feita por Vasco Vieira de Almeida, que só pecou por ser curta, tal o prazer com que era escutado, e a carta de Santos Silva, presidente da FCG e ausente por razões de força maior, lida por Teresa Patrício Gouveia.
Eramos muitos. Uma editora ousou apostar num género comercialmente pouco interessante, com cerca de 800 páginas. Tudo isto empolga. Tudo isto anima.
Questões comuns colocada pelos intervenientes - Eanes, António Reis, a autora, Joana, filha de Melo Antunes, Vasco Vieira de Almeida, Vasco Lourenço: que pensaria Melo Antunes dos tempos que vivemos? Como interviria em tal contexto?
Gente há cuja morte é uma perda, uma irremediável perda.

Sem comentários: