quarta-feira, 13 de maio de 2009

A defesa do automatismo nas carreiras públicas, como exemplo de demagogia

Era - ainda será - prática consentida pelas regras da gestão de carreiras em muitos sectores da função pública a garantia de se chegar ao topo da carreira, bastando para isso que o tempo passasse. Uma progressão automática, à medida que se voltassem as folhas de um calendário.
Toda a gente sabe que assim não é nas actividades privadas, onde o mérito não se substitui por um qualquer calendário.
Perceber o que está certo, vai levar muito tempo. A demagogia nesta matéria está de pedra e cal.
Por isso, surpreende pouco ou nada a pergunta de Jerónimo de Sousa hoje no debate quinzenal com o PM na AR: se é aceitável exigir 45 anos de actividade aos enfermeiros para chegarem ao topo da carreira. O que não é aceitável, digo eu, é que todos possam chegar ao topo, com muitos ou poucos anos. Porque, para que as coisas funcionem bem, basta e é suficiente que apenas lá cheguem os melhores. E, quando há melhores – na enfermagem como em tudo –, é porque bastantes outros o não são.
E isto é tão normal, tão fácil de entender, que já chateia a mais despudorada demagogia sobre o tema. Ou apenas para o Comité Central e outros organismos uns são mais competentes e capazes que outros? E, mesmo que, por milagre, fossem todos, como proceder?

3 comentários:

JorgeMp disse...

Quanto mais alto chegas, mais ganhas. Quanto mais ganhas, mais descontas (para o sindicato). Quanto mais o sindicato recebe, mais contribui para a Central (e para o dito Comité). A isto somas uns lugares de deputados, com as consequentes contribuições para o Partido. Topas?

Mário Pinto disse...

Até parece que só usufrui das progressões automáticas quem pertence ao “Partido”, mas enfim.
Depois, quem é que mede o mérito dos que sobem?
É o chefe, claro. E este chefe é a justiça personificada, que não erra; que não tem humores; que é de uma isenção absoluta, com certeza!
Para além disso, não é surpresa para ninguém que os chefes “vêem” da mesma forma os trabalhadores exigem ser tratados com dignidade – com tudo o que isso implica – e aqueles que dizem sempre que “sim”, ainda que essa permanente anuência implique aquilo a que se costumar designar pelo “baixar as calças”.
No fim, os bons e apenas estes, atingirão o topo. Da mesma forma que os maus; os malandros; os sornas e os polidores de esquinas ficarão cá por baixo, a sofrer na pele a sua incapacidade, para trabalhar ou qualquer outra coisa.

Bem sei que os administradores não entendem aqueles automatismos e eu, no lugar deles, talvez sentisse a mesma dificuldade. Isso compreende-se se olharmos o seu vencimento, para além de outras compensações, algumas até por “debaixo da mesa”, e que suplantam e em muito, as benesses das referidas progressões automáticas.
Por outro lado, esses administradores não carecem de avaliação porque, naquele patamar, são todos bons. Decerto que ninguém se atreverá a pôr em causa este princípio porque todos, mas todos mesmo, atingiram aquele nível devido ao seu inquestionável mérito profissional.
Simpatias, partidárias ou outras? Amizades com o Sr. A ou o Sr. B? Nem pensar!

Se mesmo assim Portugal continua a ter ordenados de miséria, tentem imaginar como seria se fossem apenas os administradores a ter voz na matéria.
Aos que ocupam uma posição na pirâmide que lhes permite olhar para baixo, tentem pôr-se no lugar daqueles que só podem olhar para cima…

Como em tudo, também neste assunto não há apenas o branco e o preto. Também existe o cinzento.

A. Moura Pinto disse...

Mário
É para mim natural que questione quem faz a defesa da progressão automática se, lá no partido, tb é assim, ou seja: se todos progridem apenas em função do tempo e se todos, apenas com base na antiguidade, chegam ao topo da carreira.
Para ti não o será, posição respeitável. Mas, para mim, quem o defende para fora, deve praticá-lo dentro de portas, por razões de coerência, para dar o exemplo.
Quanto ao resto, nem sei o que dizer. Para ti vale apenas o absoluto, a perfeição indiscutível. Quando isso é impossível, fiquemos pelo basismo, pelo básico. Pelo nada. Porque, isso sim, é a garantia da justiça. Faz força para que seja assim no teu local de trabalho e, mais tarde, olha à volta para ver quem aceitou ficar. Ou tens toda a gente capaz deste tipo de ingenuidade que pareces defender? Ou, então, admites que serás capaz de os forçar a ficar contra a sua vontade?
Admito com facilidade que um sistema de avaliação possa ter falhas, possa mesmo provocar decisões injustas. Mas, como ninguém te garante a perfeição, a tua opção é nada?
E já agora: em que empresa é que o mérito dos administradores não é avaliado por quem detém o capital? Tens o accionista / capitalista por parvo? Então os tais prémios de que se fala – alguns escandalosamente excessivos, é verdade – não dependem de objectivos? E estes não servem para avaliar o desempenho?
E concordo que entre o teu preto e o branco exista o cinzento.
Um abraço