sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Os efeitos placebo dos códigos deontológicos, a começar pelo meu

Um dia, decidi estabelecer um código deontológico para mim mesmo. Não sou menos que os outros.
No seu ponto primeiro impus a mim mesmo isto: “Não utilizarei palavrões”.
Eis que, no entanto, quando nada mais me ocorria que escrever, em certa circunstância, “estou-me cagando para o assunto”, dou com a palavra cagando sublinhada a encarnado.
Olá! Que será isto? Meditei, meditei e dei comigo a concluir que estava a infringir o meu código deontológico. Mas porra, só aquela frase fazia sentido. Mas que é isto? Tenho porra também sublinhada a encarnado.
Espera lá!
E se me acomodar com a lei, será que esta me proíbe o cagando e a porra?
Maravilha!
Depois de tanto consultar verifico ter a lei do meu lado, não me proibindo o uso de palavrões.
Sendo assim, como não seguir a tal tirada do Pina Moura quando afirmou que para ele a ética republicana é a lei?
E foi assim que passei a cagar-me para o meu código deontológico. E se nem sou jornalista ou coisa assim, para que estar preocupado com certas limitações?
Ah! Mas mantenho o código em vigor, que isso dá prestígio. Não vou prescindir do meu código, tomem nota.
De facto, o Presidente do Sindicato dos Jornalistas afirma estar à-vontade para contestar a decisão da administração da TVI porque, antes, condenou a MMG por comportamento nada condizente com o estatuto deontológico dos jornalistas.
Ora, se tais condenações não têm consequências, se é possível continuar a exercer a actividade com permanentes infracções ao código, porque não me cagar eu também para o meu, ainda que insista em mantê-lo em vigor?
E vou mantê-lo mesmo. Que gente coisa é outra fina.

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