sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um jornal de referência, agora bombo de festa...

Nota da Direcção Editorial do PÚBLICO

1. O “Diário de Notícias” escreveu hoje que um assessor do Presidente da República
“encomendou” uma notícia ao PÚBLICO sobre a hipótese de a Casa Civil da
Presidência estar sob escuta.
Encomenda, sem aspas. Basta ler o e-mail entre jornalistas do Público e divulgado hoje pelo DN.
2. Em Abril de 2008, com base em informações de uma fonte – cuja identidade é dever
de qualquer jornalista proteger –, o PÚBLICO iniciou uma investigação no sentido
de perceber a dimensão das suspeitas que sabíamos existirem no Palácio de Belém
relativamente à hipótese de membros da Casa Civil do Presidente da República
estarem a ser vigiados. Essa investigação não produziu efeitos imediatos, razão pela
qual o PÚBLICO nada escreveu sobre o assunto.
Produziu efeitos. Basta ler a crónica do Provedor do Leitor do Público de domingo passado.
Só que tais conclusões não davam jeito à encomenda.
3. Entre Abril de 2008 e 18 de Agosto de 2009, jornalistas do PÚBLICO continuaram a
recolher informação sobre este tema e sobre os seus protagonistas. Esse trabalho, que
envolveu e envolve a consulta de fontes e de documentação, continua a ser realizado.
4. No fim-de-semana anterior à publicação da notícia, a 18 de Agosto de 2009, em que
titulávamos “Presidência suspeita estar a ser vigiada pelo Governo”, registaram-se
sinais de aumento da tensão entre a Presidência e o partido do Governo, com vários
dirigentes do PS a criticarem Belém.
Os dirigentes limitaram-se a referir haver colaboração de assessores do PR na elaboração
do programa do PSD. É difícil ser claro? E que mal há nisso?
5. Foi neste quadro que, em contacto com um membro da Casa Civil do Presidente da
República, este assumiu estar autorizado a tornar pública a existência dessas
suspeitas, considerando mesmo que algumas declarações feitas nos dias anteriores o
levavam a interrogar-se, e citámos: “Será que em Belém passámos à condição de
vigiados?”
É bom que se diga estar o membro da Casa Civil autorizado. E apenas poderia
ser autorizado pelo PR. Agora este que assuma as consequências.
6. A existência deste tipo de suspeitas, assumidas formalmente, envolvendo o
Presidente da República e o Governo, é notícia em qualquer parte do mundo. E foi,
naturalmente, notícia no PÚBLICO, posteriormente confirmada por outros órgãos de
informação.
7. Como fica demonstrado, não se tratou de qualquer “encomenda”. O PÚBLICO tem
fontes, mas não são estas que ditam o que sai e quando sai no jornal. Neste caso
concreto, o PÚBLICO só publicou a notícia quando, após contacto com suas fontes,
um membro da Casa Civil do Presidente assumiu, nessa qualidade, a informação.
Essa ausência de promiscuidade na relação com as fontes também implica a
protecção da sua identidade, pelo que não podemos deixar de condenar a publicação
de um trabalho jornalístico sem qualquer dado novo para além da revelação
sensacionalista de uma pretensa fonte do PÚBLICO.
Ausência de promiscuidade? Então o Público aceita a encomenda, acompanhada
de dossier sobre a pessoa a investigar, e acha que isso não é promiscuidade?
Chama a isto jornalismo de referência?
8. O trabalho realizado pelos jornalistas Luciano Alvarez e São José Almeida, autores
dos artigos de 18 e 19 de Agosto, assim como Tolentino da Nóbrega, todos postos
em causa utilizando métodos inéditos em Portugal, obedeceu a critérios de rigor
comprovados ao longo de quase 20 anos de PÚBLICO.
Métodos inéditos? Qual quê? Acontece é que neste caso o Publico foi apanhado.
9. Na quinta-feira o PÚBLICO foi contactado pelo “Expresso” e pelo “Diário de
Notícias” para recolherem informações sobre o conteúdo de um e-mail que teria sido
trocado entre um editor e um jornalista há 17 meses. Juntamente com tal mensagem
encontrava-se uma troca de e-mails, todas realizadas esta semana, entre o director do
PÚBLICO e um jornalista sobre temas internos do jornal.
10. Nas respostas dadas sublinhou-se que no PÚBLICO se respeita o sigilo das fontes
como valor fundamental do jornalismo, pelo que aceitar discutir a veracidade de
qualquer desses documentos implicaria a violação deste dever de protecção.
Sublinhou-se também que a divulgação de qualquer dessas mensagens violaria
correspondência privada.
11. Imediatamente após o primeiro contacto para o PÚBLICO, foi aberto um inquérito
interno para tentar perceber como pode ter sido desviado um documento que apenas
circulara por e-mail, no interior do domínio do PÚBLICO e entre um grupo muito
pequeno de pessoas.
No entanto, JMF apressou-se a acusar os serviços secretos. Mas já se esqueceu.
12. Em função dos resultados desse inquérito, o PÚBLICO decidirá os procedimentos,
judiciais ou outros, a adoptar.
Força!
A Direcção Editorial

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