Porque tal teoria económica é excessivamente abstraccionista face a uma realidade bem complexa no plano institucional, político, social e psicológico. E isto deveria impor uma abordagem mais plural e que não pode limitar-se a abstracções insensatas centradas na racionalidade e no equilíbrio.
Numa fuga para a frente, alguns pretendem agora explicar que a crise se deve a pormenores passageiros, transitórios e, pasme-se, previstos.
Os operadores dos mercados financeiros e os gestores de topo, saídos das actuais escolas de economia e gestão de todo o mundo e, sobretudo, dos EUA, têm este caldo de cultura. Por isso a crise significa também o colapso teórico de um modo de ver as coisas, de olhar para a realidade.
Mas parece que ignoram que a realidade sempre resistiu, por vezes de forma dramática, às más teorias. Aliás, nesta matéria, a teoria pode pressupor, mas dificilmente demonstra. Por isso, não pode invocar-se, como suficiente, a “mão invisível” de Adam Smith, segundo a qual os agentes optimizam e os mercados harmoniza. Porque a realidade se tem encarregado de provar o contrário e, em abono de Adam Smith, há que recordar que apenas uma vez ele usou aquela expressão.
Esta crise não é uma mera anomalia, mas o resultado do desajustamento das actuais teorias económicas e empresariais à realidade e sua extrema complexidade. Por isso, urge que as escolas assumam também as suas responsabilidades e procedam em conformidade.
E, se os comportamentos económicos são comportamentos humanos, impõe-se um maior pluralismo no ensino da economia, pluralismo gerador de diversas perspectivas na análise e estudo de um mundo económico que explodirá sempre que se teime encaixá-lo em modelos redutores da realidade. Tarde ou cedo.
Escrito a partir de texto dos Professores João Ferreira do Amaral (ISEG), Manuel Branco (Universidade de Évora), Sandro Mendonça (ISCTE), Carlos Pimenta (Universidade do Porto) e José Reis (Universidade de Coimbra).
Público de 03-02-2008
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