quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

BPP - Tudo seria uma questão de fé, de milagres

Muitos de nós, naquelas circunstâncias de necessário alívio, procuramos ocupar o tempo com leituras, em geral curtas e ligeiras, sacando de um jornal, de uma revista.

A alternativa seria ficar a olhar a porta fechada, os azulejos em redor. Ora, nada como aproveitar o tempo.

Hoje saiu-me a Única do Expresso de 30-08-08. Era Verão e termo de férias para tanta gente, bronzeados em exibição.

O anúncio das páginas 4 e 5, desta vez, é um texto com assinatura de João Cutileiro, como antes, talvez depois, teve assinaturas de gente a vários títulos brilhante.

Neste formato de publicidade o convidado redigia um texto – pelo menos emprestava a sua assinatura – texto adequado a que, em notas com chamada para o texto, o pagante – o BPP – informasse ao que andava, os valores que prosseguia, as garantias que dava, tudo numa manobra de sedução em direcção a um público muito restritos. Que isto de fortunas não é para todos.

Vamos ao caso.

Título: Sem título, técnica mista
Texto: No século XIV, Giotto, com a idade que tenho hoje terá dito que já tinha ganho o suficiente para comprar umas quintas e deixar um bom dote às filhas. 1*1
(*1Giotto era famoso pela sua fealdade e as filhas ainda mais.)

Nota 1 (BPP)
Entenda-se bens e dinheiro. O Banco Privado Português só trata de dinheiro.

Nota minha
Safavam-se as filhas que herdassem as quintas. Mas feias e sem quintas… seriam piores que uma sexta-feira negra.
Verdade que Giotto e as filhas ficaram muito lá para trás, fora do alcance do BPP. Uns sortudos.

Continuando…

Um século depois é estimado que Miguelangelo vendia uma peça média por um valor que chegaria para manter durante um ano o exército privado de Lourenço de Medicis. *2
(*2Lourenço pagava muito mal (2) aos seus soldados.)

Nota 2 (BPP)
Prática corrente em muitos bancos que, ao contrário do Banco Privado Português, não têm a Estratégia do Retorno Absoluto, que garante aos seus clientes valorizações reais e potenciais muito competitivas, assim como a conservação do capital investido.

Nota minha
Foi ao Google, e dou com isto:
Envolvidos na sua aura de mistério e exclusividade, os Hedge Funds são fundos de investimento que podem utilizar um conjunto alargado de técnicas e estratégias de investimento na perspectiva de obter um retorno não relacionado com a conjuntura económica ou com a evolução dos mercados financeiros.Muito simplesmente, são fundos que perseguem o objectivo do retorno absoluto, independentemente da direcção dos mercados.”

E mais: “Investir nos melhores fundos do Mundo dentro do conceito de “investimento alternativo de retorno absoluto”, ou seja, através de uma inovadora estratégia de “fundo de fundos” com activos de correlação zero entre si e do tipo long-short. Ou seja, com remuneração positiva de médio prazo garantida e com médias de até 40% anuais.”

Complicado? Só para quem não acredita em promessas de especialistas. Porque isto é, sobretudo, uma questão de fé, uma clara aposta em milagres. No caso de Lourenço, terá havido levantamento de rancho?

A continuar

2 comentários:

Lília Abreu disse...

Bem, nada como leituras atrasadas, para nos rirmos... você falou em retortno absoluto??? ahahah
Penso que a azul tens o texto original. E afinal, quem é o joao cutileiro? o escultor? Bem, e relacionado com notícias atrasadas, com a analogia que o pedro mexia, fez na altura ao livro do joao rendeiro aquando do lançamento do "antologia do humor português", vimos-te hoje na sicN, no lançamento do dito livro.
A reforma, assim como o vermelho e branco, ficam-te bem! :-) e ficamos a aguardar os proximos episodios do "retorno absoluto"

A. Moura Pinto disse...

Sim, a azul o original. E trata-se do escultor...